Posted tagged ‘conto’

Desbinguelado a milhão no viaduto do chá

outubro 22, 2007

Eram 13:52hs. Uma segunda-feira comum.
Desde cedo, eu tava com uma impressão muito forte de que algo poderia mudar minha vida naquele dia.
Voltando horas antes, as 07:32hs eu já estava de pé. O dia tava nublado, e a minha mãe queria pó de café, que tinha acabado no domingo, motivado por doses extras servidas aos coxinhas que plantavam na porta da goma por conta de um assassinato. A polícia é assim, se você não agrada e/ou tem algum arrego, você cai. O café foi servido e a roda girava.
Sai com destino ao boteco do Zé Almeida, conhecido como Batistinha. R$ 3,50 um sacolé de café, caro demais até para o gueto, mas que escolha eu teria, aquela hora do dia?
Voltei a milhão, o café foi servido e em instantes eu caia pra rua.
Já batia 07:58hs quando eu colei no ponto, varios manos, varias minas e o bumbo nada. Quando chegou, nenhuma surpresa: lotado até nas portas, nos restava esperar o próximo. É a vida, enquanto isso alguém improvisou um samba e a galera ficou ouvindo muda.
Busão colou, sobe o bonde todo, com destino ao centro. Pra sair da periferia é difícil, mas para estar nela é só sobreviver e não ter posses, que escolha nós temos?
09:33hs e eu cheguei na praça da Sé, vi o movimento e colei com uns chegado pra fumar um cigarro. Teria que esperar ao menos mais algumas horas para a entrevista que marquei no dia, com sorte saio de lá empregado e com um fio de esperança maior.
Cigarro vai, cigarro vem… joga um pião, vê o mulato-religioso-fanático bradando fortemente a pregação de que só com Jesus seriamos salvos, dois malarinhas mirins tentando o velho golpe de bater carteira, uma par de louco sentado nos arredores da praça, cada qual com seu cada um. A cena parece comum, é o centro da cidade, toda cidade tem o seu e entende sua rotina e suas histórias.
Enfim, voltamos ao início: 13h52hs.
Em 8 minutos, eu estaria mais perto de uma chance de emprego. Subi as escadas ancioso, o prédio era antigo e o elevador tinha pifado. Cheguei na sala 205, uma loirinha meio esquisita na portaria, pediu que eu sentasse. As 14hs em ponto eu seria atendido, eu tava com sorte. As 14:09hs, já ancioso, pergunto num tom sarcástico para a loira:
– Por favor, que horas são?
Era minha deixa, ela saberia que eu tinha hora marcada, e que estavam atrasados. Eu não poderia me dar ao luxo de esperar, eu tava na correria, tinha que marchar.
– São 15:10hs, e se não me engano as entrevistas já acabaram. Acho que acharam alguém legal!

Maldito horario de verão.